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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

INTOLERÂNCIA


Foi durante uma entrevista que concedeu ao jornalista Julio Lerner em 1977, na TV CULTURA que Clarice Lispector brilhantemente respondeu a seguinte pergunta:

Em que medida o trabalho de Clarice Lispector no caso específico de Mineirinho (conto) pode alterar a ordem das coisas?
Clarice: Não altera em nada. Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
                “Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada”. É exatamente esse pensamento que me permeia nesse momento, os meus textos, minhas resenhas, minhas opiniões, críticas, expressas por meio do Charles Letrando, são somente minhas e eu não espero que elas alterem a ordem das coisas ou que altere o seu pensamento, o modo como você enxerga as coisas.

Mas, eu tenho dentro de mim a necessidade de expressão, de colocar para fora coisas que estão presas em minha garganta e talvez por isso o blog seja essa minha válvula de escape.

Você não precisa concordar com o que vou dizer (escrever) aqui, sou uma pessoa que admira e gosta da diversidade, opiniões diferentes, pensamentos diferentes, seria marasmo demais vivermos numa sociedade imperfeita onde todos pensassem da mesma forma, sem livre arbítrio para nada, então aqui você continua sendo protagonista das suas idéias.

                Mas, vamos ao que interessa...

Intolerância, xingamentos, ofensas, pessoais ou não, são temas que estamos cada vez mais acostumados a ouvir (ler) em nossas redes sociais. Essas redes com dimensões gigantescas deram a grande massa o poder de serem vistas, coisas que até anos atrás era quase que impensável, se não fosse a TV e o rádio, ninguém seria conhecido, opiniões eram dadas por aqueles ‘responsáveis’ por elas, vulgos: jornalistas, alguns artistas influentes também eram donos de pensamentos e observâncias da vida e de uma sociedade... Tudo parecia caminhar no fluxo normal daquela vida, mas eis que surge o booom das redes sociais e aquela tia velha que já não se importava com nada, começou a se interessar novamente por assuntos polêmicos e porque não expressá-los para a meia dúzia de seguidores que ela possui?

A tia velha não foi à única, visto que o adolescente rebelde, procurando demonstrar toda sua revolta vai lá em seu perfil que conta com centenas de seguidores e expressa  suas opiniões contrárias a da pobre tia velha e começa o que já conhecemos tão bem:

Xingamentos
Ofensas
Indiretas
Diretas

Os comentários começam então a explodir e a cada nova notificação, uma pessoa está ali dizendo o que é certo e o que é errado, como se fosse à única dona da verdade...

 Expondo seu ponto de vista como se esse fosse único!


Sim, as redes sociais deram vozes, por assim dizer a quem antes permaneciam calados, mas o que poderia servir para discussões saudáveis, abordagens de temas educativos, ou somente para matar a saudade daquele seu amigo que você já não o vê há algum tempo se transformou em um ringue de UFC onde todos são defensores de seus pensamentos e estão dispostos a “desfazer amizade” com todos aqueles que são contrários a sua opinião...

                Se você não pertence à cesta A você é ‘burro’ e quer viver em uma ‘ditadura’.
                Se você não pertence à cesta B você é ‘coxinha’ e não quer ‘mudanças’

Esses são apenas alguns dos diversos exemplos que eu vi permeando as principais redes sociais esses últimos dias. Ninguém respeita a opinião alheia...

Pouco me importa, pensa, o certo é o que eu acredito e acabou!

                Algo realmente estranho!

E se não existem as redes sociais? Ou melhor, e se elas não dessem tanta visibilidade como dão agora, será que as pessoas seriam ainda tão criticas?

                Tão entendedoras de livros e filmes?
                Tão peritas em política?
                Tão inteligentes a ponto de ofender opiniões diferentes a suas?

Não sei. Infelizmente essas são perguntas difíceis para mim e creio que para você também, agora ser um pouquinho mais tolerante acho que é essencial!

                E o que acha de passar uma semana, uma semana apenas sem colocar aquela indireta a alguém? Acredite isso pode mudar sua vida ou pelo menos melhorar alguns quesitos.

                Faça postagens positivas, que possam passar uma mensagem de acreditação, uma mensagem positiva a alguém, não perca amizades, mesmo que virtuais por conta de opiniões contrárias a suas, um bom diálogo é sempre melhor que um monólogo!

                Após responder a pergunta do inicio do post, o jornalista Julio questionou a Clarice:

No seu entender, qual é o papel do escritor brasileiro hoje?
Clarice: De falar o menos possível
                Queria eu, ter a vocação de Clarice e falar o menos possível, queria eu que a grande maioria das pessoas tivessem esse pensamento e falassem o menos possível, as redes sociais seriam lugares melhores e não esse campo de sangue que se tornou!


                E encerrando esse desabafo eu termino com Clarice, mais uma vez respondendo a uma pergunta do grande Julio Lerner.

Será que as coisas simples hoje são recebidas de maneira complicada?
Clarice: Talvez, talvez… 
                Bjs a todos!

Até o próximo!

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