Foi durante uma entrevista que
concedeu ao jornalista Julio Lerner em 1977, na TV CULTURA que Clarice
Lispector brilhantemente respondeu a seguinte pergunta:
Em que medida o trabalho de Clarice Lispector no caso específico
de Mineirinho (conto) pode alterar a ordem das coisas?
Clarice: Não altera em nada. Eu escrevo sem esperança de que o
que eu escrevo altere qualquer coisa.
“Eu
escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera
em nada”. É exatamente esse pensamento que me permeia nesse momento, os meus
textos, minhas resenhas, minhas opiniões, críticas, expressas por meio do
Charles Letrando, são somente minhas e eu não espero que elas alterem a ordem
das coisas ou que altere o seu pensamento, o modo como você enxerga as coisas.
Mas, eu tenho dentro de mim a
necessidade de expressão, de colocar para fora coisas que estão presas em minha
garganta e talvez por isso o blog seja essa minha válvula de escape.
Você não precisa concordar com o
que vou dizer (escrever) aqui, sou uma pessoa que admira e gosta da
diversidade, opiniões diferentes, pensamentos diferentes, seria marasmo demais
vivermos numa sociedade imperfeita onde todos pensassem da mesma forma, sem
livre arbítrio para nada, então aqui você continua sendo protagonista das suas idéias.
Mas,
vamos ao que interessa...
Intolerância, xingamentos,
ofensas, pessoais ou não, são temas que estamos cada vez mais acostumados a
ouvir (ler) em nossas redes sociais. Essas redes com dimensões gigantescas
deram a grande massa o poder de serem vistas, coisas que até anos atrás era quase
que impensável, se não fosse a TV e o rádio, ninguém seria conhecido, opiniões eram
dadas por aqueles ‘responsáveis’ por elas, vulgos: jornalistas, alguns artistas
influentes também eram donos de pensamentos e observâncias da vida e de uma
sociedade... Tudo parecia caminhar no fluxo normal daquela vida, mas eis que
surge o booom das redes sociais e aquela tia velha que já não se importava com
nada, começou a se interessar novamente por assuntos polêmicos e porque não expressá-los
para a meia dúzia de seguidores que ela possui?
A tia velha não foi à única,
visto que o adolescente rebelde, procurando demonstrar toda sua revolta vai lá
em seu perfil que conta com centenas de seguidores e expressa suas opiniões contrárias a da pobre tia velha
e começa o que já conhecemos tão bem:
Xingamentos
Ofensas
Indiretas
Diretas
Os comentários começam então a explodir
e a cada nova notificação, uma pessoa está ali dizendo o que é certo e o que é
errado, como se fosse à única dona da verdade...
Expondo seu ponto de vista como se esse fosse
único!
Sim, as redes sociais deram vozes,
por assim dizer a quem antes permaneciam calados, mas o que poderia servir para
discussões saudáveis, abordagens de temas educativos, ou somente para matar a
saudade daquele seu amigo que você já não o vê há algum tempo se transformou em
um ringue de UFC onde todos são defensores de seus pensamentos e estão
dispostos a “desfazer amizade” com todos aqueles que são contrários a sua
opinião...
Se
você não pertence à cesta A você é ‘burro’ e quer viver em uma ‘ditadura’.
Se
você não pertence à cesta B você é ‘coxinha’ e não quer ‘mudanças’
Esses são apenas alguns dos
diversos exemplos que eu vi permeando as principais redes sociais esses últimos
dias. Ninguém respeita a opinião alheia...
Pouco me importa, pensa, o certo
é o que eu acredito e acabou!
Algo
realmente estranho!
E se não existem as redes
sociais? Ou melhor, e se elas não dessem tanta visibilidade como dão agora, será
que as pessoas seriam ainda tão criticas?
Tão
entendedoras de livros e filmes?
Tão
peritas em política?
Tão
inteligentes a ponto de ofender opiniões diferentes a suas?
Não sei. Infelizmente essas são
perguntas difíceis para mim e creio que para você também, agora ser um
pouquinho mais tolerante acho que é essencial!
E
o que acha de passar uma semana, uma semana apenas sem colocar aquela indireta
a alguém? Acredite isso pode mudar sua vida ou pelo menos melhorar alguns
quesitos.
Faça
postagens positivas, que possam passar uma mensagem de acreditação, uma mensagem
positiva a alguém, não perca amizades, mesmo que virtuais por conta de opiniões
contrárias a suas, um bom diálogo é sempre melhor que um monólogo!
Após
responder a pergunta do inicio do post, o jornalista Julio questionou a
Clarice:
No seu entender, qual
é o papel do escritor brasileiro hoje?
Clarice: De falar o menos
possível
Queria
eu, ter a vocação de Clarice e falar o menos possível, queria eu que a grande
maioria das pessoas tivessem esse pensamento e falassem o menos possível, as
redes sociais seriam lugares melhores e não esse campo de sangue que se tornou!
E
encerrando esse desabafo eu termino com Clarice, mais uma vez respondendo a uma
pergunta do grande Julio Lerner.
Será que as coisas
simples hoje são recebidas de maneira complicada?
Clarice: Talvez, talvez…
Bjs
a todos!
Até o próximo!